Eta soninho
bom!
Crianças de creche e pré-escola
precisam de um local tranqüilo e confortável para dormir, repor as energias e
voltar a brincar.
O almoço da turminha de 3 anos no
Centro de Educação Infantil Bryan Biguinati, em São Paulo, acontece diariamente
às 11 horas. Logo em seguida, enquanto uma professora organiza a fila na porta
do banheiro e põe pasta na escova de dentes dos pequenos, outra espalha os
colchões pelo chão da sala. O ambiente está quase pronto. Depois de fazer o
xixi e a higiene bucal, cada um vai para a própria caminha. A rotina muda com
os de 4 e 5 anos. Como não querem perder um só minuto de brincadeira, eles
resistem a esse hábito. Para que descansem assim mesmo, são convidados a fazer
atividades mais tranqüilas, como manusear livros e desenhar. Os que sentem
vontade de tirar uma sonequinha encontram colchões disponíveis em um dos
cantos.
A regra muda
em cada escola de Educação Infantil. Em algumas, a hora de repousar vale para
todos, sem exceção! Em outras, o que manda é a necessidade de cada criança.
Umas vão para os berços, outras para os colchonetes.
Nesse panorama
tão variado, o que se destaca de maneira comum, no entanto, é a falta de
formação e informação do professor, que, em grande parte das creches e
pré-escolas, não conta nem mesmo com o tema dentro das diretrizes pedagógicas.
" Isso deveria fazer parte das preocupações de qualquer profissional
encarregado de cuidar de uma criança e educá-la", diz Magda Rezende,
coordenadora do grupo de pesquisas Cuidado à Saúde Infantil, da Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo.
O sono é
importante para a aprendizagem, para a regulação da emoção e para o
crescimento, além de ser uma necessidade fisiológica. Quando uma criança
adormece, é porque está realmente precisando. O hormônio somatotrópico, também
conhecido como hormônio do crescimento, é liberado durante o dia todo, mais ou
menos a cada duas horas. Porém, é durante o sono mais profundo que ele é
liberado em uma quantidade tão grande que estimula o desenvolvimento das
células e a deposição de cartilagem nas regiões de crescimento.
Pais viram alunos
Grandes
companheiros bichos de pelúcia e outros brinquedos dão segurança na hora do
descanso
Além de cuidar
da soneca das crianças durante o período escolar, é também função da equipe
compartilhar o que sabe com os pais e responsáveis. "Logo no primeiro
contato com a família, é importante investigar como os filhos dormem", diz
Katia Chedid, orientadora educacional do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo.
Alteração de humor, dificuldade de socialização e atraso na fala e no
crescimento são sinais de alerta para aprofundar a investigação. Esses
problemas podem estar relacionados a noites maldormidas. Nesses casos, um
neuropediatra deve ser consultado.
Outra
informação que você poderá passar aos responsáveis é que o sono é um mecanismo
fisiológico que pode ser ensinado. Há crianças que não precisam de nenhum
ritual para adormecer. Marcia Pradella, médica responsável pelo setor de
pediatria do Instituto do Sono, em São Paulo, defende que os bebês a partir de
5 meses de vida têm capacidade de dormir sem a ajuda dos adultos. "É
melhor que se aprenda bem cedo para, na adolescência ou na vida adulta, não
necessitar de recursos como a TV ou mesmo medicamentos."
Organização
é tudo
Não há
segredos para promover a hora do repouso. Em primeiro lugar, é preciso
organizar os horários de trabalho dos funcionários da escola de acordo com a
rotina dos pequenos - e não o contrário - para que eles não sejam acordados
pelo entra-e-sai. Na Creche-Escola A Ciranda, em Viçosa (MG), os turnos
contemplam as necessidades da criançada. "Um pessoal começa às 7 horas e
vai até as 11, enquanto outro vai das 11 às 17 horas", explica a diretora,
Luciana Fiel. "Dessa maneira, evitamos tumultos no momento de descanso,
após a refeição."
No que se
refere ao espaço reservado para o repouso, Damaris Maranhão, formadora do
Instituto Avisa Lá, em São Paulo, recomenda que seja arejado, com luz indireta
e isolado dos demais ambientes. "A área pode ser separada da sala de
atividades por um vidro para possibilitar a supervisão constante." O local
não precisa ser usado somente para esse fim, mas tem de estar sempre disponível
para os que quiserem descansar.
Até os 8 ou 10
meses, os bebês ficam em berços, que devem estar distantes uns dos outros no
mínimo 60 centímetros. Depois que começam a descer deles por conta própria, o
melhor é recorrer aos colchonetes colocados sobre o piso, como na Bryan
Biguinati. "As crianças ficam seguras e livres para levantar quando quiserem",
explica a diretora, Amélia Olave. O mais adequado é que os colchões sejam
forrados com uma lona plastificada para facilitar a limpeza com água e
detergente neutro.
Cada criança tem de ter seu lençol e
sua fronha. Mesmo se não forem trazidos de casa, devem ser de uso individual
durante a semana. Isso evita a transmissão de pediculose (piolho), escabiose
(sarna) ou outras doenças de pele. Para promover a segurança física e afetiva,
cada um pode trazer objetos queridos, como bichinhos de pelúcia, chupetas e
paninhos.
É essencial
ter um adulto sempre observando a turma. Uma criança pode acordar assustada ou
indisposta e precisar de ajuda imediata. Não é raro também alguma delas querer
brincar, morder o amigo que dorme ao lado ou mesmo tropeçar ao tentar se levantar.
Tudo isso deve ser previsto. A babá eletrônica é outro bom recurso. Ela permite
ouvir os ruídos que indicam algum desconforto, choro ou apenas que alguém já
despertou.
E se alguns
querem ficar acordados? A situação é comum e acontece por vários motivos:
mudança do horário da família no dia anterior, início de uma infecção, erupção
de dentes ou simplesmente o temperamento. Para esses momentos, Luciana tem uma
solução. Montar na sala um canto com livros, brinquedos, papéis, lápis de cor e
outros materiais utilizados em atividades silenciosas para entretê-los.
Tirar uma soneca na escola...
Desenvolve
a cognição e regula a emoção
Estimula
o crescimento
Promove
conforto e bem-estar
Tempo de sono por dia
Recém-nascido: entre 16 e 17 horas
De 1 mês a 6 meses: entre 14 e 15 horas
De 7 meses a 1 ano: entre 13 e 14 horas
De 2 a 5 anos: entre 11 e 13 horas
Os ritmos e
a saúde
Cada um tem um ritmo
enquanto alguns dormem em colchonetes, outros brincam.
O tempo de sono varia de acordo com a
idade. Um bebê recém-nascido dorme várias vezes ao longo de um dia. Esse
comportamento se mantém até o terceiro mês em cerca de 90% dos casos. Os 10%
restantes adormecem somente durante a noite desde o nascimento. Nesse período,
ainda não é produzida a melatonina - hormônio que indica para o organismo que
está na hora de repousar. Por isso, o nenê dorme conforme sua necessidade
durante as 24 horas do dia.
Entre o
terceiro e o quinto mês, o sono passa a se concentrar à noite. O bebê amadurece
e o mecanismo que regula essa atividade também. Com 1 ano, ele repousa à noite
e tira duas ou três sonecas durante o dia. A duração delas também não é rígida:
para alguns, bastam 20 minutos, enquanto para outros são necessárias duas horas
e meia. Depois dos 3 anos, a maioria das crianças deixa de repousar durante o
dia. Para as que vêm de regiões onde até os adultos tiram a sesta, o hábito se
prolonga. "É preciso sempre dispor de colchões para esses casos", diz
Magda.
As necessidades
e os ritmos também são diversos. O sono sofre influência do clima e da vida
social. Se os pais vão para a cama cedo, provavelmente o filho fará o mesmo. O
estado de saúde também é determinante e alguns transtornos podem se manifestar
nessa fase. Eles são divididos em duas categorias: respiratórios (ronco e
apnéia) e não respiratórios (fragmentação do sono).
No primeiro
caso, a criança tem parada respiratória enquanto está adormecida por causa de
amígdalas ou adenóide grandes e acorda antes de entrar no estágio profundo. Com
isso, seu organismo não libera o hormônio do crescimento na quantidade ideal e
o seu desenvolvimento fica comprometido.
Já os
não-respiratórios são chamados de benignos e estão ligados à maturação do
sistema nervoso. Seus sintomas são o gemido ou o choro durante a soneca. Eles
diminuem com a maturidade até desaparecer. "É importante que a escola
conheça os hábitos e o estado de saúde da criança para que possa dar a ela boas
condições de sono e, assim, promover seu completo desenvolvimento",
conclui Damaris.
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