Meu, seu ou nosso?
Para que os pequenos aprendam a conviver socialmente, é preciso desenvolver a noção do que é pessoal e coletivo


EU E MEU ESPAÇO Na CEMEI Uberaba,
todos têm um lugar certo para guardar
seus pertences. 
Fotos: Marcelo Almeida

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EU E EU MESMO Com fotos individuais,
os pequenos aprendem a se reconhecer
e identificar os colegas.

Quando as crianças começam a frequentar a creche, saem de um universo em que toda a atenção da família é dedicada a elas e passam a ter de dividir o cuidado dos adultos e os objetos a sua volta com vários colegas. Esse é um momento importante a ser explorado, pois é quando se iniciam a formação da identidade e o saber do que é de posse pessoal e coletiva. "Até então, elas não se veem como alguém que existe por si só", explica Karina Rizek, coordenadora de projetos da Escola de Educadores, em São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Para fazer com que a turma desenvolva os conceitos de identidade e de sociabilização, é preciso estabelecer algumas atividades rotineiras, como trabalhar com fotografias das crianças. Uma boa forma de usá-las é montar um cartaz com elas, acompanhadas do nome de cada um. Aliás, para trabalhar com crianças dessa idade, usar esse tipo de imagem pode ser útil para que elas diferenciem o que lhes pertence do que é propriedade de todos (leia atividade permanente). O armário onde as mochilas e os materiais são guardados, por exemplo, deve ser organizado de tal modo que cada uma tenha seu espaço identificado com sua foto. É assim que funciona na CEMEI Uberaba, em Curitiba. "Todos já sabem que não se pode pegar as coisas que estão no espaço que é do colega sem pedir antes", conta a educadora Raquel Pereira Costa.

Intervenções ajudam a aprender como compartilhar o material
Os pequenos precisam entender também que tintas e papel, entre outras coisas, devem ser socializadas. Guardar tudo isso em caixas coletivas é uma boa saída. É fundamental intervir para que todos aprendam a compartilhar esses objetos. As regras a esse respeito devem ser validadas sempre. Nesse processo, muitos vão chorar e brigar com os colegas. É seu papel mostrar que o comportamento não é adequado e fazer com que os envolvidos participem da resolução. "Isso é de todo mundo. Que tal você ficar com uma folha e dar outra ao seu colega?" O dia do brinquedo na escola é outro momento rico para explorar a noção do que é individual. "As famílias devem ser orientadas a deixar os filhos levarem somente o que pode ser usado por todos", recomenda Karina. Com essas atitudes, você vai ajudar os pequenos a compreender como agir para viver (bem) em sociedade.

Projeto Permanente - Pessoal e coletivo
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Objetivos
a) Partilhar experiências e objetos próprios e dos colegas, aproximando-se de regras de convivência.
b) Ter prazer e se divertir com a vivência coletiva na creche, inclusive na relação com outras crianças.
c) Desenvolver, gradativamente, a autonomia em relação às regras sociais.
d) Identificar e diferenciar os pertences coletivos dos individuais.

Conteúdos
- Identidade.
 - Autonomia.

Tempo estimado 
O ano todo.

Flexibilização
O trabalho com as fotos, assim como a organização dos espaços e da rotina na creche contribuem para o desenvolvimento das crianças com deficiência intelectual - geralmente mais lento que o dos colegas. Mas nas deficiências menos severas as dificuldades são pouco notadas nos primeiros anos de vida. Por isso, é muito importante contar com as informações fornecidas pelos familiares da criança e pelos profissionais de saúde que a acompanham. Você também deve observar e registrar os avanços do bebê para propor os caminhos adequados ao desenvolvimento da identidade e da autonomia. A repetição de atividades e a oferta de fotografias e objetos que façam parte do dia a dia da criança são ações imprescindíveis.

Material necessário
Pertences diversos individuais das crianças (como brinquedos e mochilas) e coletivos da turma (pincéis e lápis, por exemplo). Máquina fotográfica ou fotos das crianças feitas pelas famílias.

Desenvolvimento 
1ª etapa
Fotografe a turma reunida e, depois, uma criança de cada vez. Entregue para cada uma delas a foto individual e deixe que todas manuseiem as imagens, emprestando a sua para os colegas. A ideia é que todos se familiarizem uns com os outros. Em seguida, recolha as fotos e mostre-as uma a uma para os pequenos, perguntando quem é quem. Estimule-os a apontar o colega e repetir o nome dele. Convide todos a pegar a própria foto. Faça cartazes com as imagens e o nome de cada um e deixe-os expostos na sala. Chame a atenção do grupo quando alguém estiver ausente e mostre o retrato. Repita essas situações diversas vezes.

2ª etapa
Separe um espaço na sala (podem ser prateleiras, cabides ou caixas, por exemplo) para cada criança colocar seus objetos pessoais (como blocos de papel, brinquedos, copos e agasalhos). Identifique cada local com a foto e o nome dela. Explique que assim todos vão saber identificar o que é seu e do outro. Depois, peça que coloquem seus pertences no espaço respectivo. Em diferentes momentos, mostre os objetos no espaço identificado e deixe que as crianças identifiquem o proprietário, recorrendo às fotos. Use as imagens do grupo reunido para identificar onde são guardados os objetos que são para o uso coletivo.
3ª etapa
Proponha que os pequenos tragam objetos pessoais de casa, em especial os brinquedos.
Converse com as famílias para que ajudem os filhos a escolher o que eles estejam dispostos a emprestar para os colegas. Trabalhe com o grupo as oportunidades de troca e a chance de pedir as coisas emprestadas para os amigos. Converse individualmente e com o grupo sobre isso, enfatizando por que é importante dividir e a validade de cuidar do que é do outro e de não pegar algo que está nas mãos de alguém, enquanto isso estiver em uso.

Avaliação
Crie situações variadas para observar como a turma se relaciona com os espaços, as pessoas e os objetos. Proporcione momentos que envolvam a troca, por exemplo. Busque os avanços nas relações de respeito (pedir emprestado, entregar e devolver), na identificação dos objetos pessoais e dos que são de todos. É importante que os pequenos tenham se desenvolvido em relação à autonomia tanto nas relações com outros como no uso de objetos.

Coordenadora de projetos da Escola de Educadores, em São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Revista nova escola n° 227, novembro de 2009.


ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
            A fim de possibilitar às crianças um ambiente onde elas possam pesquisar e expressar os temas que desejam abordar nos projetos, o educador deve, desde o início do ano letivo, organizar e planejar tempo, espaço e materiais, proporcionando diversas experiências às crianças. Afinal, os temas não surgirão apenas da “espontaneidade” das crianças, mas de sua interação com um meio ambiente rico e estimulante. Denominamos estas organizações de rotina, e consideramos que, dentre inúmeras possibilidades, a rotina deve oferecer às crianças momentos onde elas possam desenvolver as atividades sugeridas no quadro que se segue:


HORA DA RODA DA CONVERSA
            Este momento é um dos mais importantes para a organização do trabalho pedagógico e para o desenvolvimento das crianças. Na roda, o educador recebe as crianças, proporcionando sensações como acolhimento, segurança e de pertencer àquele grupo, aos pequenos que vão chegando. Para tal, podem utilizar jogos de mímica, músicas e mesmo brincadeiras tradicionais, como “adoleta” e “corre-cotia”, promovendo um verdadeiro “ritual” de chegada. Após a chegada, o educador deve organizar a roda de conversa, onde as crianças podem trocar idéias e falar sobre suas vivências. Aqui cabe ao educador organizar o tempo, para que todos os que desejam possam falar, para que todos estejam sentados de forma que possam ver-se uns aos outros, além de fomentar as conversas, estimulando as crianças a falarem, e promovendo o respeito pela fala de cada um. Através das falas, o educador pode conhecer cada uma de suas crianças, e observar quais são os temas e assuntos de interesse delas. Na roda, o educador pode desenvolver atividades que estimulam a construção do conhecimento acerca de diversos códigos e linguagens, como, por exemplo, marcação do dia no calendário, brincadeiras com crachás contendo os nomes das crianças, jogos dos mais diversos tipos (visando apresentá-los às crianças para que, depois, possam brincar sozinhas) e outras. Também na roda deverão ser feitas discussões acerca dos projetos que estão sendo trabalhados, além de se apresentar às crianças as atividades do dia, abrindo, também, um espaço para que elas possam participar do planejamento diário. O tempo de duração da roda deve equilibrar as atividades a serem ali desenvolvidas e a capacidade de concentração/interação das crianças neste tipo de atividade.


HORA DA ATIVIDADE
         Neste momento da rotina, o professor organizará atividades onde as crianças, através de ações (mentais e concretas) poderão construir conhecimentos de diferentes naturezas. As atividades que proporcionam a construção destes tipos de conhecimentos podem estar ligadas aos temas dos projetos desenvolvidos, ou podem ser resultado do planejamento do educador, criando uma seqüência de atividades significativas. A organização da sala, para o desenvolvimento de tais atividades, deve proporcionar às crianças a possibilidade de trocarem informações umas com as outras, e de se movimentarem, e de atuarem com autonomia. Assim sendo, é importante que a disposição dos móveis e objetos na sala torne possível: que as crianças sentem em grupos, ou próximas umas das outras; que haja espaço para circulação na sala e que os materiais que as crianças necessitarão para desenvolver as atividades estejam ao seu alcance, e com fácil acesso. Estas atividades também podem ser realizadas em espaços fora da sala. De qualquer modo, é necessário que o educador planeje as atividades oferecidas, que forneça às crianças os materiais necessários para a sua realização e, sobretudo, esteja presente, ouvindo as crianças e auxiliando-as, pois somente assim ele poderá compreender o desenvolvimento das crianças e planejar atividades cada vez mais adequadas às necessidades delas. Para realizar este acompanhamento, o educador pode planejar e oferecer ao grupo atividades diversificadas, em que cada criança escolhe, dentre as várias atividades disponíveis, em qual se engajará primeiro, (como os cantos diversificados).


ARTES PLÁSTICAS
         O trabalho com artes plásticas na Educação Infantil visa ampliar o repertório de imagens das crianças, estimulando a capacidade destas de realizar a apreciação artística e de leitura dos diversos tipos de artes plásticas (escultura, pintura, instalações). Para tal, o educador pode pesquisar e trazer, para a sua turma, diversas técnicas e materiais, a fim de que as crianças possam experimentá-las, interagindo com elas a seu modo, e produzindo as suas próprias obras, expressando-se através das artes plásticas. Assim, elas aumentarão suas possibilidades de comunicação e compreensão acerca das artes plásticas. Também poderão conhecer obras e histórias de artistas (dos mais diversos estilos, países e momentos históricos), apreciando-as e emitindo suas idéias sobre estas produções, estimulando o senso estético e crítico.


HORA DA HISTÓRIA
         Podemos dizer que o ato de contar histórias para as crianças está presente em todas as culturas, letradas ou não letradas, desde os primórdios da historia do homem. As crianças adoram ouvi-las, e os adultos podem descobrir o enorme prazer de contá-las. Na Educação Infantil, enquanto a criança ainda não é capaz de ler sozinha, o educador pode ler para ela. Quando já é capaz de ler com autonomia, a criança não perde o interesse de ouvir histórias contadas pelo adulto; mas pode descobrir o prazer de contá-las aos colegas. Enfim, a “Hora da História” é um momento valioso para a educação integral (de ouvir, de pensar, de sonhar) e para a alfabetização, mostrando a função social da escrita. O educador pode organizar este momento de diversas maneiras: no início ou fim do dia; incrementando com músicas, fantasias, pinturas; organizando uma pequena biblioteca na sala; fazendo empréstimos de livros para que as crianças levem para casa, enfim, há uma infinidade de possibilidades.


HORA DA BRINCADEIRA
            Brincar é a linguagem natural da criança, e a mais importante delas. Acreditamos que a brincadeira é uma atividade essencial na Educação Infantil, onde a criança pode expressar suas idéias, sentimentos e conflitos, mostrando ao educador e aos seus colegas como é o seu mundo, o seu dia-a-dia. A brincadeira é, para a criança, a mais valiosa oportunidade de aprender a conviver com pessoas muito diferentes entre si; de compartilhar idéias, regras, objetos e brinquedos, superando progressivamente o seu egocentrismo característico; de solucionar os conflitos que surgem, tornando-se autônoma; em experimentar papéis, desenvolvendo as bases da sua personalidade. Cabe ao educador fomentar as brincadeiras, que podem ser de diversos tipos. Ele pode fornecer espelhos, pinturas de rosto, fantasias, máscaras e sucatas para os brinquedos de faz-de-conta: casinha, médico, escolinha, etc. Podem pesquisar propor e resgatar jogos de regra e jogos tradicionais: queimada, amarelinha, futebol, pique-pega, etc. Pode confeccionar vários brinquedos tradicionais com as crianças, ensinando a reciclar o que seria lixo, e despertando o prazer de confeccionar o próprio brinquedo: bola de meia, peteca, pião, carrinhos, fantoches, bonecas, etc. Pode organizar, na sala, um cantinho dos brinquedos, uma “casinha” além de, é claro, realizar diversas brincadeiras fora da sala.


HORA DA ALIMENTAÇÃO / HIGIENE
            Devemos lembrar que comer não é apenas uma necessidade do organismo, mas também uma necessidade psicológica e social. Na Bíblia, por exemplo, encontramos dezenas de situações em que Jesus compartilhava refeições com seus discípulos, fato que certamente marcou nossa cultura. Em qualquer cultura os adultos (e as crianças) gostam de realizar comemorações e festividade. Por isso, a hora do lanche na Educação Infantil não deve atender apenas às necessidades nutricionais das crianças, mas também às psicológicas e sociais: de sentir prazer e alegria durante uma refeição; aprender a comer sozinho; de aprender a preparar e cuidar do alimento com independência; de adquirir hábitos de higiene que preservam a boa saúde. Por isto, a hora do lanche também deve ser planejada pelo educador. A disposição e organização do refeitório devem facilitar as conversas entre as crianças; deve haver lixeiras e material de limpeza (panos, vassouras e rodos) por perto para que as crianças possam participar da higiene do local onde será desfrutado o lanche (antes e depois dele ocorrer estimulando a socialização e, ao mesmo tempo, o cuidado com a higiene caso a criança queira participar). Além disso, é importante que o educador demonstre e proporcione às crianças hábitos saudáveis de higiene antes e depois do lanche (lavar as mãos, escovar os dentes, etc.). O lanche também pode fazer parte dos projetos desenvolvidos pela turma: pesquisar os alimentos mais saudáveis, plantarem uma horta, fazer atividades de culinária, produzir um livro de receitas, fazer compras no mercado para adquirir os ingredientes de uma receita, dentre outras, são atividades às quais o professor pode dar uma organização pedagógica que possibilite às crianças participar ativamente, e elaborar diversos projetos junto com a turma.

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