Atividades sobre
Gêneros para trabalhar com os educandos de CECs e CEDESP, retirado da apostila “Gênero fora da Caixa” do Instituto Sou da Paz.
Apresentação
O Instituto Sou da Paz é uma Oscip – Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público – que, há mais de dez anos, busca contribuir para a efetivação de
políticas públicas de segurança e prevenção da violência pautadas pelos valores
da democracia, da justiça social e dos direitos humanos.
A juventude é um dos focos de atuação do Instituto Sou da Paz,
uma vez que constitui o público mais vulnerável à dinâmica da violência. Os
projetos desenvolvidos pela área de Adolescência e Juventude do Instituto
Sou da Paz atuam para promover a ocupação democrática dos
espaços públicos, estimular a resolução pacífica dos conflitos e engajar jovens
lideranças na transformação de suas comunidades.
A pesquisa demonstrou diversos fatores que afastam as mulheres
dos espaços públicos, tais como preconceito da comunidade em relação às
mulheres que “ficam na rua”, responsabilidades pelas tarefas domésticas e de
cuidado com as famílias delegadas às mulheres, ocupação dos espaços
(principalmente quadras) mediada pela força, entre outros. Após esse
levantamento, o projeto realizou oficinas com jovens dos distritos estudados,
empregando diferentes linguagens artísticas para estimular a reflexão sobre as
questões de gênero e a ampliação da participação feminina nas comunidades.
Foi realizado um conjunto de oficinas, buscando promover a
convivência pacífica e a valorização da diversidade, contribuir para a reflexão
crítica sobre os modelos de feminilidade e masculinidade, estimular a não
violência entre jovens, principalmente do sexo masculino e valorizar a
participação feminina.
Atividades
As atividades a seguir foram aplicadas pela equipe do Projeto
Juventude, Gênero e Espaço Público (3ª edição), desenvolvido entre 2009 e 2010
em duas instituições que atendem adolescentes e jovens da cidade de São Paulo:
a EMEF Pe. José Pegoraro, no Grajaú; e o Centro de Juventude Helena Portugal
Albuquerque, no Jaçanã.
Atividade 1:
Os
modelos que eu vejo
Objetivo:
Permitir que os/as jovens
reflitam sobre modelos valorizados pela sociedade.
Tempo estimado
2 horas (1 hora de construção do modelo e 1 hora de debate)
Materiais
• Papel pardo
• Revistas e jornais diversificados
• Cola
• Tesoura
• Caneta piloto
Descrição
da atividade
Esta atividade consiste na montagem de “modelos ideais” de homem
e mulher valorizados pela sociedade segundo a opinião dos/as alunos/as. Para
realizar a atividade, você deve dividir a sala em quatro grupos e distribuir
alguns exemplares de revistas e jornais de diferentes tipos: resumo semanal;
publicações dirigidas
ao público masculino; com notícias sobre celebridades; voltadas
ao público negro; praticantes de atividade física, etc., para que os grupos
tenham uma maior variedade de imagens disponíveis, e possam escolher o modelo
que querem construir. Peça para que cada grupo desenhe num papel pardo um corpo
– masculino ou feminino – a partir da silhueta de um/a jovem. Em seguida, peça
para que o grupo pense na questão: em sua opinião, qual
é o modelo de homem/mulher mais valorizado pela sociedade?
Os /as educandos/as devem recortar imagens e construir um
personagem colando estas imagens. Dois grupos devem procurar imagens para fazer
a construção do “modelo feminino” e os outros dois do “modelo masculino”,
procurando responder às questões:
• Como é a aparência dele/dela?
• Quais bens materiais ele/ela possui?
• O que ele/ela sente?
Fechando a
discussão
Nossa experiência com a aplicação desta atividade mostrou que os
modelos são bem parecidos com os personagens de sucesso retratados nas novelas,
ou seja, completamente diferentes da realidade dos/das jovens. Equipamentos
eletrônicos como celular e ipod, corpos malhados, carros e viagens em lugares
paradisíacos apareceram em quase todos os modelos construídos pelos/as jovens.
Por isso, antes de finalizar a atividade, é importante conversar com os/as
jovens o quanto esses modelos influenciam a sua vida.
·
A seguir,
apresentamos algumas questões que podem ajudar a
nortear a discussão.
·
• Quais problemas
você identifica nesses modelos? Quais as vantagens?
·
• O que você mais
valoriza em si mesmo?
·
• É possível ser
diferente? Como é para você ter que estar de acordo com um padrão?
·
• Por que as pessoas
têm dificuldade de aceitar outras formas de ser homem e ser
·
mulher? O que
podemos fazer para mudar isso?
·
• Você consegue
identificar preconceitos presentes na idéia de ser homem/mulher propagada pela
mídia? E por sua família e amigos?
Qual a importância de respeitar a
diversidade (de jeitos, de corpos, de gostos, etc.)?
Atividade 2
Dinâmica do concordo e discordo
Objetivo
·
Identificar as
percepções dos/as jovens sobre as relações de gênero no cotidiano e, a partir
disso, debater com o grupo sobre as questões e pontos de vista mais polêmicos.
·
Tempo estimado
50 minutos
·
Materiais
• Cartões de papel
• Flip-chart ou lousa
Prepare a atividade
Essa atividade deve ser realizada em um
espaço amplo, para que o grupo possa se movimentar. Caso ela ocorra dentro da
sala de aula, é importante que as carteiras sejam afastadas, deixando o espaço
central livre. Prepare-se para ser o mediador dos debates.
Descrição da atividade
Partindo da apresentação de algumas
afirmações que traduzem percepções do “senso comum” sobre relações de gênero,
os/as jovens devem se posicionar a favor ou contra o que foi dito. Além de
promover o debate, esta atividade permite que o/a educador/a identifique quais
preconceitos e percepções sexistas precisam ser trabalhados com os/as jovens. A
partir desse diagnóstico, outras atividades sobre a temática de gênero podem (e
devem) ser desenvolvidas para promover
relações mais democráticas entre o grupo. Socialize com o grupo de jovens as
afirmações apresentadas nos quadros a seguir e peça para que todos/as se
levantem e se posicionem em relação ao que foi dito: aqueles que são a favor,
no lado direito da sala; os contra, no lado esquerdo; e os que estão “em cima do
muro”, no meio da sala.
Peça para os/as participantes escolherem sua posição mentalmente
antes de se movimentarem na sala. Nossa experiência mostrou que os/as jovens
costumam se posicionar a partir da escolha dos/as amigos/as, o que pode
atrapalhar a dinâmica da atividade.
Fechando a discussão
Depois disso, procure identificar quais
foram as duas afirmações que geraram maior polêmica na sala. Organize um rápido
debate sobre essas duas questões (um assunto por vez) entre o lado que concorda
e o que discorda, solicitando que defendam suas posições.
Outra dinâmica interessante é o debate
invertido, no qual o lado que concorda com a frase deve defender a posição
contrária e vice-versa. Isso contribui para que os jovens entrem em conflito
com suas próprias convicções e desenvolvam a capacidade de entender o outro
lado de uma argumentação.
Atividade 3
Fazendo cena e invertendo os papéis
Objetivo
Permitir que os/as jovens questionem os
papéis desempenhados por homens e mulheres
em algumas situações, a partir da
representação de esquetes teatrais com os “papéis
invertidos”, isto é, garotos representando
o gênero feminino e garotas representando o
gênero masculino.
Tempo estimado
1 hora
Materiais
• Folhas de sulfite (fichas)
• Caneta
Descrição da atividade
Nesta atividade, os/as jovens devem
elaborar e apresentar cenas a partir de situações que fazem parte do dia-a-dia
e/ou que são exploradas pela publicidade. No entanto, os/as educandos/as
deverão representar os papéis do gênero oposto ao seu.
Para realizar a atividade, divida a turma
em grupos mistos (homens mulheres) com pelo menos quatro integrantes em cada.
Em seguida, copie as situações descritas abaixo (uma situação por ficha de
papel) e distribua uma ficha para cada grupo. (Obs:
Essas fichas foram readaptadas para a realidade dos educandos de CECs e CEDESP
do BOMPAR.)
Menino
Organizando a casa enquanto a menina esta se arrumando pra uma partida de
futebol com as amigas.
|
No
dia dos namorados o garoto é surpreendido por uma menina com um buquê de
flores.
|
O
menino assistindo a um filme romântico e se emocionado (Chorando) enquanto a
menina assiste a um jogo de futebol na TV.
|
Menino
dançando Ballet, e a menina HIP HOP.
|
Menino
cuidando da parte estética cabelos , unhas, sobrancelhas etc. e a menina
concertando a bicicleta.
|
Peça para que cada grupo crie uma cena sobre a situação descrita,
lembrando que os meninas do grupo devem representar os papéis femininos e as meninas
os masculinos. Dê tempo (entre 15 e 20 minutos) para que os grupos elaborem as
cenas e, em seguida, peça para que cada grupo represente a situação. Feche a
atividade com uma breve roda de conversa sobre como foi fazer as cenas, procurando
trazer algumas questões.
Questões
para discussão
·
Essas situações
acontecem com freqüência? Você conhece alguém que já passou por alguma dessas
situações? E com você, já aconteceu?
·
O que você acha do
papel que o homem desempenha nessas situações? Por quê?
·
O que você acha do
papel que a mulher desempenha nessas situações? Por quê? Na vida real, diante
de uma situação semelhante, você reagiria da mesma forma como representou?
·
O que foi diferente
para você ao interpretar o sexo oposto?
·
Para os jovens
homens: como você se sentiu no papel da mulher?
·
Para as jovens
mulheres: como você se sentiu no papel do homem?
·
Para os jovens
homens: vocês acham que as mulheres representaram você bem?
·
Para as jovens
mulheres: vocês acham que foram bem representadas pelos homens?
Atividade 4
Qual é a sua? Elaborando um fanzine pelo respeito à diversidade.
Objetivo
Construir, junto com os/as jovens, um fanzine (jornal
alternativo, muito utilizado pelos
jovens) com o tema “respeito à diversidade”.
Tempo estimado
5 horas (a atividade pode ser fragmentada em vários encontros)
Materiais
• Folhas de sulfite
• Revistas e jornais diversificados
• Máquina fotográfica
• Computador com acesso à Internet
• Impressora/ máquina de xerox
• Gravador
• Caneta
• Cola
• Tesoura
• DVD e televisão
Descrição da atividade
Esta atividade consiste na produção de um fanzine pelos/as
próprios/as jovens. Aqui sugerimos algumas seções que o fanzine deve ter, bem
como dinâmicas para cada uma delas, com o objetivo de contribuir para que os/as
jovens trabalhem o tema do respeito à diversidade.
Abaixo sugerimos
algumas perguntas que podem ser feitas ao grupo:
• Quem vai à igreja sempre?
• Quem acha que a violência é justificável
em alguns casos?
• Quem já bateu em alguém menor do que
você? Quem já bateu em alguém maior?
• Quem já teve muita vontade, mas não
bateu?
• Quem acha que a escola é um saco?
• Quem acha que têm profissões que
envolvem risco ou força e por isso só devem ser
ocupadas por homens?
• Quem acha que deve tomar atitude para
defender a irmã ou namorada? E como? Com
violência ira solucionar o problema?
• Quem acha que se uma pessoa passar a
mão propositalmente na bunda de uma
menina no CEC, CEDESP ou até mesmo na escola é uma atitude
legal?
• Quem acha importante se vestir bem? E
cuidar da Higiene Pessoal?
• Quem já teve preconceito com alguém que
estava mal vestido?
• Quem quer ter uma moto? E Carro? Quais
os caminhos mais saudáveis para conseguir?
• Quem costuma fazer trabalhos
domésticos?
• Quem se acha bonito?
• Quem assiste TV todos os dias?
Fechando a atividade...
Depois disso, converse com os/as
educandos/as sobre o fato de que possuímos opiniões próprias que podem ou não
ser iguais às dos nossos amigos e familiares. Afinal, nossa identidade é
composta de múltiplas referências, sendo que nenhuma pessoa é igual à outra. É
importante salientar que estamos em constante reconstrução, as nossas opiniões
se modificam ao longo da vida.
Feita esta primeira sensibilização sobre
o tema, a turma deverá ser dividida em subgrupos responsáveis pela produção de
cada parte do fanzine, de acordo com as habilidades de cada um.
Sugerimos as
seguintes seções:
a) entrevista;
b) enquete;
c) fotos;
d) colagem;
e) “ponto de vista”.
Além dessas seções, você pode, com os/as
educandos/as, criar e incrementar o fanzine com outras, como poesia, conto,
crônica, história em quadrinho,
charges, matérias, etc.
Tente identificar quais são os pontos
fortes dos participantes e decida com eles o conteúdo.
Chegou a hora de finalizar o material!
Todos os conteúdos produzidos deverão ser
reunidos e diagramados para a confecção
do fanzine, que pode ser feito de forma
bem artesanal, a partir de colagens de recortes,
ou utilizando programas de computador
(caso opte por isso, conte com a ajuda de alguém
que já saiba utilizar esses programas). A
seguir, apresentam-se as orientações de
como produzir um fanzine artesanal.
PASSO 2
numeração das folhas
Numere as faces de cada
retângulo, considerando a
frente e o verso da folha. Ao
total, o fanzine deve ter oito
páginas numeradas.
PASSO PASSO 3
distribuição do conteúdo
Em seguida, selecione e distribua o conteúdo produzido nas
páginas do fanzine. Sugerimos:
Página 4 > Capa
do fanzine
Dê um nome ao jornalzinho e coloque-o em destaque na capa.
Selecione também as
imagens que farão parte da primeira página e coloque as
indicações das seções que integram
o fanzine. Lembre-se de que a capa tem que ficar bacana, pois é
o que desperta
a curiosidade das pessoas para a leitura do material.
Páginas 1 e 2 >
Entrevistas e enquete
Selecione as melhores entrevistas e respostas e apresente-as de
forma resumida ao
lado das fotos dos entrevistados (somente se as pessoas que
autorizaram o uso de
imagem). Coloque ainda no canto direito, ao final da página 2, o
gráfico originado a
partir da enquete.
Páginas 5 e 6 >
Fotografias e legendas
Peça para que o grupo selecione cerca de 4 ou 5 fotografias.
Imprima-as com um tamanho
reduzido e organize-as de forma que caibam em meia folha A3
(lado superior
da folha). Não se esqueça de que as legendas devem acompanhar as
fotos! Nela, deve
conter o nome do aluno que tirou a foto.
Páginas 7 e 8 >
Colagem
Selecione e faça uma composição com as imagens escolhidas. O
espaço não deve ultrapassar
meia folha, ou duas faces do fanzine.
Página 3 > Ponto
de vista
Esta é a conclusão do fanzine. Deve deixar uma história, uma
reflexão sobre um fato
atual ou um poema. Se couber, coloque também nesta face os nomes
das pessoas que
participaram da construção do fanzine.
PASSO 4
Produção visual do fanzine
Depois de distribuir o conteúdo, começa a fase de dar um “toque
especial” ao fanzine. Utilize ilustrações, adesivos, canetinhas e tudo o mais
que possa deixar o seu fanzine lindão. Você pode escrever o conteúdo, ou parte
dele à mão. Mas para que a diagramação fique melhor, escreva os textos no Word,
recorte-os e cole-os no fanzine.
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